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Fashion Rio: balanço 2º e 3º dia

janeiro 14, 2011

Acquastudio, Maria Bonita Extra, Coven, Giulia Borges e British Colony

Walter Rodrigues, Têca, Totem, Printing e TNG

Não indiferente, mas como parte da vida que segue adiante, o Fashion Rio emplaca o 2º dia sob o manto de tristeza e chuva que paralisou o Rio de Janeiro com mortes e alagamentos. A moda comercial não tem respostas imediatas para toda a tragédia que se abateu sobre o Estado, e no momento ela cuida de fazer o seu melhor, mas outros poderes, cuja competência é cuidar para que algo assim não se repita, deveriam ter.

 

Acquastudio

Há quem ame e quem odeie o desfile da Acquastudio, antes mesmo da coisa rolar. Em se tratando de moda, melhor é levar em conta esta capacidade de gerar reações tão distintas uma da outra: pior que indiferença, neste terreno, não há. Na prática, Ester Bauman põem em cena ambiciosos projetos de modelagem arquitetônica e experimental, que tem sim, bom nível técnico e momentos inspirados. Disposta a falar da “fragilidade humana”, dessa vez ela reitera o repertório moda festa com modelagem armada, certa delicadeza nos tecidos, nas muitas texturas e nas estruturas suspensas da modelagem. E aposta na estranheza dos sapatos pesados do Fernando Pires sublinhando o conjunto.


Maria Bonita Extra

A marca fundiu balé e academia, fragilidade e dinâmica e se saiu muito bem nesta modalidade de maior impacto e menos doçura. Sem perder o rumo do que ela vende bem país afora, naturalmente. O ponto de partida são os ensaios da dança, o que se usa neles e como eles avançam pelar ruas quando findam os ensaios. Este mote condiciona e renova o viés esportivo, sujeitado não apenas à fluidez, mas à estrutura e dureza urbana dos casacos armados.

Coven

Identificando o tricô, que é o carro chefe da marca, com teias de aranha, Coven cita Louise Bourgeois, autora da escultura-aracnídeo aprisionada na sala de vidro do MAM, em São Paulo. Bourgeois é uma artista de obra polêmica e brilhante, que faleceu perto dos 90 anos, em 2010. O ponto de partida superlativo rende looks bons retalhados por cores e padrões contrastantes, no estilo singular que a marca desenvolveu e impôs. Uma celebração interessante das possibilidades de tecelagem, que encosta só de leve nas alturas que a citação à artista franco-americana pressupõe.
Giulia Borges

A marca é pop, muito pop. Desta vez, pinçou elementos do trabalho da artista japonesa Nagi Noda, que reinventa bichos com mistura de padronagens. O resultado é meio-onça-meio-zebra, meio-veado-meio-tigre. Também é um pouco surreal. Estranheza não é artigo em falta nesta coleção de exageros, cores conflitantes e alma de brinquedo de pelúcia.

British Colony


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem medo da cor, nem de outros atributos de verão, British Colony ensaia um convincente inverno de alma tropical. Formas amplas e sutilezas na construção da modelagem qualificam o exercício. No mais, confira os comprimentos curtos para os casacos de garotas e rapazes, as golas experimentais, o amarelo solar e os cruzamentos de estampas em um mesmo look, fechando bem este 2º dia.

Walter Rodrigues

No começo da década passada, o artista, cineasta e fotógrafo Arthur Omar encarou uma aventura densa. Saiu do Brasil com a finalidade de resgatar alguma parte que fosse das duas colossais e milenares estátuas de Buda destruídas pela violência do Talibã, no Afeganistão. Um gesto poético/político dessa magnitude leva inevitavelmente a outro. A aventura de Omar virou livro e o contato com as imagens captadas por ele impactou Walter Rodrigues, que cita o caso e encara o inverno 2011 em rota existencial. Ele fala de reestruturação e de posicionamento pessoal perante o trabalho, e com este ponto de partida, simplifica, tenta retornar às raízes, e apresenta o que ele chama de “resistência simbólica” em coleção negra, de formas melancólicas e belos vestidos.
Têca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A coleção de peças fáceis da Têca ganhou complexidade no styling, com sobreposição de tops sobre malhas e outros cruzamentos cortejando estranhezas. Helô Rocha dividiu o tema em duas vertentes: a cultura japonesa e a lingerie desenhada na primeira metade do século 20. Em busca de feminilidade, poesia e boas vendas, a coleção já atingiu os 2 primeiros objetivos.

Totem

O soul dos anos de 1970 conduz o inverno da Totem para uma coleção swingada e agradável. Mas, onde canta e dança James Brown, canta e dança Tim Maia. No balanço da Totem, a tropicalidade fala mais alto, com ecos de Brasil e Jamaica. Aberturas, boca de sino, tricô e crochê metalizados e inventivos, e boas estampas geométricas abstratas são devidamente tramados pelo imaginário hand made da época. Para eles e para elas a receita estética é a mesma, variando apenas o inevitável, em mix atual orientando o estilo do passado.


Printing


Deixando correr solta a imaginação, em cores fortes, texturas trabalhadas, proporções inventivas e ótima execução, a Printing pode ser responsabilizada pelo primeiro pico de adrenalina fashion da temporada carioca. A combinação de longo fluído com blusa comprida em tricô assume a frente do mix. Em seguida, entram opções de vestidos limpos e curtos com inconfundível sotaque sessentista. Para deleite geral, a marca se arrisca convicta em cartela maiúscula e atrevida, com azul-royal, amarelo-limão, verde-floresta, coral e pink. Nas coleções da Printing, há sempre uma fonte detectável de influência mais imediata. No passado recente, nada disso atrapalhou as boas apresentações. Acontece o mesmo agora, quando a última coleção Jil Sander parece ter encantado a direção criativa da marca.    
TNG

Encerrando o dia, os rapazes da TNG saíram no lucro, com adaptações bem proporcionadas e comerciais do figurino atribuído aos beatniks. A marca também ensaia uma rara e convincente variação em feminino da roupa vestida pelos integrantes do movimento que, como se sabe, foi tocado quase que exclusivamente a testosterona. Como é de praxe, Gianecchini encarnou a celebrity da hora na passarela, encerrando o terceiro dia de desfiles.

Fotos: © Agência Fotosite

Texto: Use Fashion



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